Trocando idéias

Escolhi um caminho na vida, que me levou a descobrir o prazer em atividades que sempre neguei fazer como cozinhar e costurar. Além disso agora sou mãe e essa palavra passou a ter um novo significado para mim. Nesse espaço pretendo compartilhar experiências e idéias pelas quais tenho passado.
Viver é experimentar, é mudar, é aprender com paciência e, aos poucos, conquistar uma modesta sabedoria.





terça-feira, 25 de outubro de 2011


AVENTURAS EM  BLUMENAU
das capivaras às cinzas do vulcão Puyehue 

Em 2005, lá pelos meus 33 anos, me aconteceu o esperado, casar com uma pessoa que não era baiano (sim, eu tinha certeza disso), porém também inesperado pois teria de ir morar em Blumenau, lugar que nunca imaginei como possibilidade de residência.

Hoje, quase sete anos depois, só posso descrever essa minha experiência nova de vida como uma aventura diária. Situações inusitadas acontecem sempre, afinal é o despertar para uma nova realidade. Às vezes sofremos, mas o consolo é saber que estamos amadurecendo, outras vezes sorrimos e nos divertimos com o que acontece. E é para sorrir que resolvi compartilhar tais experiências neste singelo texto.

Nasci e fui criada em Salvador, Bahia. Ao nascer, meus pais moravam em Ondina. Com um ano eles mudaram para a Pituba. Quando eu estava com meus 4 anos de idade, eles mudaram de endereço mais uma vez, agora para Amaralina, onde ficamos por uns longos quinze anos. E mudamos para a Pituba, onde ainda moram.

Quase não conheci outras cidades fora da Bahia. Fui em Aracaju e Rio de Janeiro ainda pequena, não lembro de muita coisa. Já adulta estive em Recife e Olinda, São Paulo e Lisboa. Ahh, mas lembrei agora, em 2000, passei uma semana em Cuiabá e no jornal local mostraram um jacaré sendo pego andando pela rua na cidade vizinha. Entretanto, Cuiabá foi um caso isolado e rápido na minha vida, assim, minha referência de cidade continuava sendo mesmo Salvador, com muitos prédios ou casas colados uns aos outros. Em bairro nobre tem casas enormes com área verde, mas os jardins e as piscinas ficavam na nossa imaginação, pois a grande maioria das casas tinham muros e placas no portão alertando: “cão bravo”. 

Apesar do predomínio do concreto, Salvador é rodeada pela natureza, o mar...E eu tive esse privilégio de sempre residir perto da praia. Ver o mar para mim é terapêutico: alegra, tranquiliza e purifica a alma.  A natureza se fazia presente: ao andar na orla ou na areia da praia e depois tomar uma água de côco; no fim de semana ir à praia e renovar as energias tomando um banho de mar; ver o pôr do sol no Farol da Barra ou no Solar do Unhão; e no início da noite, ver a lua cheia nascendo no horizonte, imensa e amarelada.

Mas a vegetação urbana, para o meu modesto entendimento de uma moradora desatenta, era mais restrita. Muitos coqueiros isso tinha, aliás ainda tem e muitas árvores também, porém com pouca variedade. Lembro-me de muitas amendoeiras com suas castanhas caídas no chão e também a ficus elástica (pesquisa na internet para saber qual é tá) com suas raízes enormes que quase abalaram a estrutura da nossa casa em Amaralina. Na época foi autorizada, pela prefeitura, o seu corte, desde que, substituídas por coqueiros.

A fauna que me recordo era composta de cães e gatos, ratos, baratas, formigas, muriçocas, maruins, moscas, aranhas, lagartixa, lesma (esses três últimos sempre apareciam no meu quarto da residência de Amaralina, aiiiii como sofri naquele quarto, nheco). Mas lembro de bandos de periquitos voando, passarinhos e borboletinhas amarelas. Na Pituba, ainda aparece, de vez em quando, cavalo passeando e deixando rastro. Fora isso, bicho grande só no zoológico.

Como já citei, mudei para Blumenau e tive de enfrentar alguns desafios e aventuras decorrentes das novidades.

A cidade é menor, e, para minha experiência, é mais sossegada, com menos violência e trânsito menos conturbado. Entretanto são muitos os acidentes no trânsito. Muitos motoqueiros,  e motoqueiras.

Aqui ainda predominam as casas, na sua maioria com jardim, muitas flores e árvores diversas. Árvores e flores que nunca tinha visto. Realmente é algo de se admirar. Logo no primeiro ano me surpreendi passeado por Blumenau,  ao ver sítios em plena cidade. Alguns deles até têm gado pastando. Também é comum nesses jardins terem uma horta caseira.

Nos dois primeiros anos, sofri muito com o frio. Até meados de dezembro eu ainda sentia frio, agora já acostumei. Uma grande novidade é saber que aqui no sul o famoso ar condicionado serve tanto para resfriar, quanto aquecer. Pois para mim, pouco viajada, só o aquecedor, podia esquentar o ambiente.

Indo passear em Florianópolis, percebi ao longo da estrada alguns out-doors contorcidos e árvores reviradas, troncos caídos no chão. Aquilo me surpreendeu, mas não comentei nada. Com o passar do tempo, continuava vendo cenas semelhantes e o que eu temia foi constatado ser real: acontecem ventanias em Santa Catarina. Ventos em torno de 120 a 140 km por hora.

No verão também é comum aconterem temporais no fim da tarde. Geralmente o dia é bem bonito, de sol e calor, mas lá pelas 16 horas o tempo muda, o céu fica repleto de nuvens muito escuras, começa a trovejar e cai a chuva. O problema é que eu não tinha o hábito de ouvir tanta trovoada junta, muito menos trovões demorados. Morria de medo. Acostumei, passei a respeitar ainda mais os raios e trovoadas, mas ano passado uma faísca caiu no telhado da casa de minha cunhada em Pomerode. Queimou telefone, computador, televisão....tá doido!!!!

A cidade é recortada por riachos e, portanto é cheia de pequenas pontes. O rio principal o Itajaí-Açú, passa no centro comercial de Blumenau. Um belo dia eu andava pelo centro e, ao atravessar uma ponte perto da prefeitura, olho para o braço de rio e o que vejo no gramado? Uma família de capivaras. É comum elas passearem próximo ao rio.

Sobre vegetação urbana, já falei que aqui tem muitas árvores e flores. É muito lindo o colorido das flores e de algumas árvores quando florescem. Mas agora é hora da fauna. Aqui também tem cães, gatos, ratos, baratas, lagartixa, mosquito, muita formiga, e muitos, muitos pássaros.

Moro em um condomínio residencial e, na lateral da nossa casa tem uma área de preservação da floresta atlântica. Ao amanhecer os pássaros fazem a festa cantando. Sempre vejo beija-flor e borboletas de todas as cores. Outro dia vi um casal de pássaros azuis. Nesse ponto, a natureza aqui é primorosa. Teve um período em que sempre via vagalumes à noite. Infelizmente agora tem um poste bem na direção da área verde e não os vejo mais.

Na nossa garagem, meu esposo Adroaldo, de vez enquando, encontra uma aranha caranguejeira. Graças à Deus, ainda não me deparei com elas.   Se chover os sapos e rãs vêm passear pelas ruas do condomínio. Na frente da casa do nosso vizinho encontraram uma cobra que parecia ser coral. E, finalmente, fui apresentada ao maruim. Até então só sentia suas picadas, mas Adroado conseguiu fazer a proeza de matá-lo e me mostrar. Ele é do tamanho do ponto no final da frase.

O sol se põe na frente da nossa casa. Temos muitos finais de tarde bem bonitas. Alaranjadas, rosada, azul com rosa, lilás. Em um desses finais de tarde agradáveis, estava eu e Adroaldo na varanda e ao olharmos para as árvores, levei um susto! Minha nossa um macaco enorme andando nos galhos das árvores. Era o macaco bugio espécie comum na região. Que tal?

No verão também fui apresentada aos lagartões meio esverdeados. Eles saem pelas bocas de lobo do condomínio como se quizessem tomar um fresquinho. Medem de 50 centímetros a 1 metro. Será que eu me assustei quando vi o primeiro deles andando por aqui?

Gambá para mim era igual ao do desenho animado, preto com listras brancas. Mas eles também costumam passear pelo nosso condomínio e lá vinha aquele bichinho marrom e de rabo comprido correndo pelo meio fio. Para mim era uma ratazana, mas o meu guia de assuntos da fauna blumenauense (Adroaldo) , afirmou ser um gambá. Fiquei meio decepcionada pela faltas das listras, mas atualmente já acho eles engraçadinhos.

Em novembro de 2008, aconteceu a enchente com deslizamentos de terra, que abalou e emocionou o Brasil. Dois dias antes eu tinha viajado para Salvador, mas meu esposo e suas filhas continuaram em Blumenau. Entretanto, nossa casa fica em lugar protegido, alto e longe de morros que causem riscos de desabar. Mas não foi fácil acompanhar pela televisão tudo o que aconteceu aqui. Agora em 2011, houve outra enchente, mas a população e a Defesa Civil estava melhor preparada e não houve mortes e menos deslizamentos de terra. Dessa vez eu estava na cidade, me assustei um pouco, pois estava no Centro e vi a movimentação dos lojistas já retirando as mercadorias, antecipando a enchente. Mas as pessoas no geral pareciam bem controladas.

E, essa semana teve a gota d’água das surpresas e aventuras em Blumenau. Não resisti e corri para escrever, afinal é  tudo muito inusitado para minha origem soteropolitana. Aqui acontecem coisas que nunca imaginei um dia vivenciar. Pois bem, terça-feira, dia 18/10/2011 à tarde, parei o carro por umas 3 horas no bairro Itoupava Seca. Ao retornar, o carro estava imundo de poeira esbranquiçada. Achei estranho, mas como o ar estava seco e tinha muita areia nos cantos da rua, pensei que fosse aquilo. Somente no dia seguinte fui saber o que houve. As cinzas do vulcão Puyehue  localizado no Chile chegaram aqui em Santa Catarina, em cima do meu carro, e hoje, quinta-feira dia 20/10/2011 chegou na varanda da minha casa!!!!!!!!!!!!!!!!!!
 Vejam as fotos. Não estão muito nítidas porque o granito é manchadinho, mas foi o que deu para fazer.

Acho que vou marcar uma consulta no cardiologista... “São muitas emoções!!!”

Obrigado àqueles que tiveram paciência para ler esse tratado.
Beijos
Jaqueline


20/10/2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Instinto ou amor materno?

Instinto  ou amor materno? Não importa! Só sei que senti uma força brutal tomar conta do mim e me vi como uma leoa agarrando sua cria pelos dentes para afastá-la do perigo.

Isso aconteceu no dia 08 de setembro de 2011. Deixei minha filha na escola e, por volta das 09 horas da manhã, fui ao centro de Blumenau, por onde passa também rio Itajaí Açu. Chovia muito e já sabia da possibilidade de enchente, mas achava que aconteceria de forma mais lenta. Nunca tinha passado por uma situação como esta. Em 2008, que foi mais catastrófica devido aos deslizamentos de terra, viajei para a Bahia dois dias antes de tal fatalidade. Enfim, era tudo novo para mim.

Resolvi o que precisava resolver e fui dar uma olhada nas lojas. Mas alguns lojistas guardavam as mercadorias em sacos, outros já colocavam seus produtos  nas malas dos carros. De início fiquei sem entender o que ocorria. Como era cedo, eu achava que eles estavam abastecendo as lojas, em vez de retirarem as mercadorias. Até que caí na real e compreendi, a enchente era fato consumado. Foi quando me deu um aperto no peito e pensei na minha filha. Queira pegá-la, agarrá-la na verdade, e levá-la para casa, que até então fica em um bairro seguro (alto e sem morros ao redor). Eu me via abraçando-a e chegando em casa.

Foi uma sensação nova, maior e que tomava conta do meu corpo. Foi diferente de cuidar de uma doença, ou até de um acidente, quando caí ou escorrega. Acredito que a sensação foi proporcional ao que estava para acontecer. Agora era uma ação da Natureza, um rio violento invadindo um novo espaço! E, como sou inexperiente no assunto,  sabe-se lá o que poderia acompanhar essa enchente. Precisava da minha filha junto de mim, para protegê-la.

Entretanto, a razão controlou o sentimento, ou o instinto, mas a tensão era latente. Não havia ninguém desesperado ou correndo pelas ruas. Como já citei, eu era a inexperiente, então primeiro confirmei a previsão da enchente e, aí sim, liguei para a escola, que já estava liberando os alunos seguindo a orientação da Secretaria de Educação. Fui buscar minha filhota e aí relaxei interiormente.

Sabe-se que o instinto animal é inato, mas na história da nossa sociedade, o zelo pela etapa infantil da vida e o cuidado da mãe com as crianças tal como acreditamos ser correto  é algo que surgiu a partir do século XIX, sem contar as variações de educação dada de acordo às diversas culturas ainda existentes ( http://www.brasiliaemdia.com.br/2007/5/10/Pagina2271.htm).

É....surpreendente sim; teve um período que as mães não cuidavam dos filhos! E isso era o comum, hoje ficamos horrorizados com os abandonos e maus tratos. Porque o AMOR que surge com o nascimento e criação do filho, é algo único. A ligação é tão forte, que só em momentos como esse descrito da enchente, isto é, de perigo iminente ( como doenças, acidente, sumiço da criança), para podermos, de fato, descobrir a sua força.