CUIDADO COM O TELHADO DE VIDRO
Estávamos em mais
um dia de férias, curtindo o sol e o mar, na nossa prainha quase particular em
Balneário Capri, em São Francisco do Sul. Depois que passou a comemoração do
ano novo, a frequência na praia diminuiu drasticamente no meio da semana. Mas
sempre por volta das 10:30 h da manhã, quando o sol resolve finalmente aparecer
de vez, aquecendo e embelezando a natureza, a energia toma conta das pessoas,
dando-lhes alegria e disposição para caminhar até a praia. A extensão da orla é
grande e, como a frequência dos praieiros é pequena, sobra espaço para todos.
Na primeira
sexta-feira de 2012, uma família de descendentes de japoneses, acredito eu,
montou acampamento próximo a minha família. Um casal e mais duas mulheres,
todos já na faixa dos quarenta e uns anos. Enquanto o rapaz colocava os sombreiros
as mulheres estendiam suas toalhas pela areia e, prontamente, começaram a tomar
sol.
Rapidamente esqueci-me
dos novos vizinhos, pois estava lutando internamente entre o desejo de entrar
na água e o receio desta estar gelada. Mas geralmente a paixão pelo mar vence
essa briga. Adoro mergulhar! Não sei nadar, mas sei boiar. Além disso, respeito
muito o mar e seus perigos, como as ondas fortes, lugares fundos, correnteza e
repuxo. Evito tudo isso e nunca tive problemas em me deliciar na praia tomando
um belo banho de mar. Resolvi, então, entrar na água.
Aos poucos fui
molhando o corpo, dando atenção especial à barriga e às costas que parecem ser
mais sensíveis ao contato com a água fria. Terminada essa fase, não tem jeito,
enfiar a cabeça na água e rezar para depois não sentir frio. E foi o que fiz.
Que maravilha! Vencida a etapa dos medos é só curtir a delícia do mar. A maré é
calma e de água transparente. O sol refletindo seu brilho naquele tapete
voluptuoso. Para mim, tomar banho de
mar é revigorante, lava a alma, renova as forças para a vida, levando com as
ondas as impurezas que nos consomem o pensamento......ops. Nem toda impureza é
levada pelas ondas! Algo de venenoso faz parte da nossa genética, com certeza.
Retornei
ao mundo real, quando meus olhos visualizaram meus vizinhos de praia, a família
dos japoneses, que, agora, estavam bem na minha direção, pois, a pouca
correnteza do mar, me levou mais para a esquerda. E, deparo-me com o rapaz iniciando
uma atividade física.
Com
os óculos de natação pendurados no braço como se fosse uma manga vestida, em
vez de uma apresentação de tai chi chuan, presenciei uma aula de alongamento.
Uma preparação primorosa para o nado, que deduzi vir a seguir. Movimentos
lentos esticando um braço, abaixando o braço, levantando o outro braço,
abaixando o outro braço. Tttuuudddooo mmmuuuiiitttooo dddeeevvvaaagggaaarrr.
Dentro
da água eu o observava e ria por dentro, admirada com tanto zelo no exercício e
também muito curiosa para ver se o nado corresponderia a esse cuidado.
Nossa!
Demorou tanto que terminei meu mergulho e voltei à minha toalha estendida ao
sol. Para minha surpresa meu marido logo puxou conversa e, não deu outra, fez a
mesma observação sobre o esmero e a demora do nosso vizinho de praia para
realizar um alongamento. E brincávamos: - Será que vai atravessar até o outro
lado do canal?
Bem,
em algum momento ele teria de parar o exercício nem que fosse para ir embora da
praia. Enfim essa hora chegou e entrou no mar. É, de fato, começou o nadar,
demonstrando ter vasta experiência no ofício. A classe apresentada no
alongamento foi mantida nas braçadas, no bater de pernas e no girar da cabeça.
Classe e calma.
Nadou
e sumiu. Esquecemo-nos do nosso vizinho nadador. Tomei sol, brinquei na areia
com minha filha. De repente, olha quem voltava depois de muitos minutos
passados! Sim, o descendente de japonês. Ficamos mais uma vez admirados, pois
demorou muito para voltar nadando e comentamos que de fato ele tinha muito bom
preparo físico. E ele continuou a nadar na outra direção. Demorou mais uma vez
para voltar. Desta feita parou e voltou a encontrar-se com a família sentada na
areia.
Depois
de muitos comentários, brincadeiras e admirações sobre formas de nadar, foi a
vez agora de o meu querido marido ir tomar banho de mar. Com seu jeito peculiar
de nadar, para não dizer que é, na verdade, desajeitado, começou a bater os braços para trás com as pernas
esticadas para a frente. Eu observava da cadeira a figuraça! De repente seu
rosto mudou de expressão. A fisionomia de alegria mudou para a de dor.
Parou
de nadar e voltou para a areia. Era visível que algo deu errado. Ele confessou,
que foi criticar o alongamento do japa e acabara de dar um jeito no seu braço
justamente por não ter feito o mesmo.
Pois
é, como diz o ditado: “Quem tem telhado de vidro, não joga pedra no telhado do
vizinho.”. E assim, com as boquinhas bem fechadas, voltamos para casa para
cuidar de um braço dolorido.
Oi, Jaqueline!
ResponderExcluirAdorei esta crônica!!!!
Muito engraçada e, com certeza, muito verdadeira também!
Todos nós temos "telhado de vidro", né?
Talvez quando vivemos situações como esta que vc relatou é que percebemos isso mais fortemente!
bjão,
Josie