Trocando idéias

Escolhi um caminho na vida, que me levou a descobrir o prazer em atividades que sempre neguei fazer como cozinhar e costurar. Além disso agora sou mãe e essa palavra passou a ter um novo significado para mim. Nesse espaço pretendo compartilhar experiências e idéias pelas quais tenho passado.
Viver é experimentar, é mudar, é aprender com paciência e, aos poucos, conquistar uma modesta sabedoria.





quarta-feira, 1 de maio de 2013

TELHADO DE VIDRO

                                       CUIDADO COM O TELHADO DE VIDRO

Estávamos em mais um dia de férias, curtindo o sol e o mar, na nossa prainha quase particular em Balneário Capri, em São Francisco do Sul. Depois que passou a comemoração do ano novo, a frequência na praia diminuiu drasticamente no meio da semana. Mas sempre por volta das 10:30 h da manhã, quando o sol resolve finalmente aparecer de vez, aquecendo e embelezando a natureza, a energia toma conta das pessoas, dando-lhes alegria e disposição para caminhar até a praia. A extensão da orla é grande e, como a frequência dos praieiros é pequena, sobra espaço para todos.

Na primeira sexta-feira de 2012, uma família de descendentes de japoneses, acredito eu, montou acampamento próximo a minha família. Um casal e mais duas mulheres, todos já na faixa dos quarenta e uns anos. Enquanto o rapaz colocava os sombreiros as mulheres estendiam suas toalhas pela areia e, prontamente, começaram a tomar sol.

Rapidamente esqueci-me dos novos vizinhos, pois estava lutando internamente entre o desejo de entrar na água e o receio desta estar gelada. Mas geralmente a paixão pelo mar vence essa briga. Adoro mergulhar! Não sei nadar, mas sei boiar. Além disso, respeito muito o mar e seus perigos, como as ondas fortes, lugares fundos, correnteza e repuxo. Evito tudo isso e nunca tive problemas em me deliciar na praia tomando um belo banho de mar. Resolvi, então, entrar na água.

Aos poucos fui molhando o corpo, dando atenção especial à barriga e às costas que parecem ser mais sensíveis ao contato com a água fria. Terminada essa fase, não tem jeito, enfiar a cabeça na água e rezar para depois não sentir frio. E foi o que fiz. Que maravilha! Vencida a etapa dos medos é só curtir a delícia do mar. A maré é calma e de água transparente. O sol refletindo seu brilho naquele tapete voluptuoso.   Para mim, tomar banho de mar é revigorante, lava a alma, renova as forças para a vida, levando com as ondas as impurezas que nos consomem o pensamento......ops. Nem toda impureza é levada pelas ondas! Algo de venenoso faz parte da nossa genética, com certeza.

                Retornei ao mundo real, quando meus olhos visualizaram meus vizinhos de praia, a família dos japoneses, que, agora, estavam bem na minha direção, pois, a pouca correnteza do mar, me levou mais para a esquerda. E, deparo-me com o rapaz iniciando uma atividade física.

                Com os óculos de natação pendurados no braço como se fosse uma manga vestida, em vez de uma apresentação de tai chi chuan, presenciei uma aula de alongamento. Uma preparação primorosa para o nado, que deduzi vir a seguir. Movimentos lentos esticando um braço, abaixando o braço, levantando o outro braço, abaixando o outro braço. Tttuuudddooo mmmuuuiiitttooo dddeeevvvaaagggaaarrr.

                Dentro da água eu o observava e ria por dentro, admirada com tanto zelo no exercício e também muito curiosa para ver se o nado corresponderia a esse cuidado.

                Nossa! Demorou tanto que terminei meu mergulho e voltei à minha toalha estendida ao sol. Para minha surpresa meu marido logo puxou conversa e, não deu outra, fez a mesma observação sobre o esmero e a demora do nosso vizinho de praia para realizar um alongamento. E brincávamos: - Será que vai atravessar até o outro lado do canal?

                Bem, em algum momento ele teria de parar o exercício nem que fosse para ir embora da praia. Enfim essa hora chegou e entrou no mar. É, de fato, começou o nadar, demonstrando ter vasta experiência no ofício. A classe apresentada no alongamento foi mantida nas braçadas, no bater de pernas e no girar da cabeça. Classe e calma.

                Nadou e sumiu. Esquecemo-nos do nosso vizinho nadador. Tomei sol, brinquei na areia com minha filha. De repente, olha quem voltava depois de muitos minutos passados! Sim, o descendente de japonês. Ficamos mais uma vez admirados, pois demorou muito para voltar nadando e comentamos que de fato ele tinha muito bom preparo físico. E ele continuou a nadar na outra direção. Demorou mais uma vez para voltar. Desta feita parou e voltou a encontrar-se com a família sentada na areia.

                Depois de muitos comentários, brincadeiras e admirações sobre formas de nadar, foi a vez agora de o meu querido marido ir tomar banho de mar. Com seu jeito peculiar de nadar, para não dizer que é, na verdade, desajeitado, começou  a bater os braços para trás com as pernas esticadas para a frente. Eu observava da cadeira a figuraça! De repente seu rosto mudou de expressão. A fisionomia de alegria mudou para a de dor.    

                Parou de nadar e voltou para a areia. Era visível que algo deu errado. Ele confessou, que foi criticar o alongamento do japa e acabara de dar um jeito no seu braço justamente por não ter feito o mesmo.

                Pois é, como diz o ditado: “Quem tem telhado de vidro, não joga pedra no telhado do vizinho.”. E assim, com as boquinhas bem fechadas, voltamos para casa para cuidar de um braço dolorido.

 

 

Um comentário:

  1. Oi, Jaqueline!
    Adorei esta crônica!!!!
    Muito engraçada e, com certeza, muito verdadeira também!
    Todos nós temos "telhado de vidro", né?
    Talvez quando vivemos situações como esta que vc relatou é que percebemos isso mais fortemente!
    bjão,
    Josie

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